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Nhô Caboclo (Manoel Fontoura)

Não se sabe exatamente quando ou onde nasceu (“não sei certo meus anos porque nunca marquei minha idade”, dizia o artista), sendo possível que tenha nascido na comunidade indígena de Fulniô, em Águas Belas. Cresceu numa fazenda em Garanhuns, onde começou a esculpir usando plantas como a barba-de-bode e a mandioca linheira, além do barro. Alguns anos depois, consta ter trabalhado em Caruaru, produzindo esculturas em barro com Vitalino. 

Foi funileiro, sapateiro, carpinteiro e ferreiro. Mudou-se para Recife, onde faleceu em 1976. Sua obra é composta por esculturas majoritariamente produzidas em madeira e folha-de-flandres, incluindo ainda outros materiais, como penas, tecido e até objetos como facas. Afirmava que as peças de barros eram mortas, pois “não se faz um lutador de espada de barro, não se faz uma engenhoca, engrenagem a vapor para trabalhar no vento. Gosto de peça que bula, peça valente, peça braba. 

Peça manual.” O artista ainda manifestou expressamente seu repúdio à figuração naturalista: “não gosto de fazer peça moderna, inspirada em outra, bem caricaturada, bem copiada, que a gente fica sem saber se pode dizer que é uma escultura ou um manequim.” Produziu peças móveis com componentes mecânicos “quando sonhava uma engrenagem ou ia ao cinema”, afirmando sobre elas: “peguei a fazer peça manual para trabalhar no vento, como um corta-vento, ligado a um vaivém, do jeito da máquina do trem que locomove uma hélice. Aí a hélice trabalha e em tudo que o vaivém tiver enganchado tem de bulir: todo mundo trabalhando.

” Para Lélia Coelho Frota, “é evidente a preocupação com a organização do trabalho, com as estruturas sociais da ordem e da desordem, da sujeição do homem, da sua violência e da sua valentia.” Segundo Emanoel Araujo, destacam-se no conjunto de sua obra seus Barcos, “construções geniais pelos muitos elementos que neles se entrelaçam e equilibram”, e suas Rachas, “construções quase gráficas, desenhadas com ritmos, formas e figuras de pequenos homens e pássaros, criando como um todo harmonioso a partir desse retângulo recortado pelo grafismo de seus divisores”.